28 de dezembro de 2009

Você é chato ?


Você é chato? Nunca saberá. O chato não se sabe como tal, ou melhor, sabe sim, mas sempre tem a esperança de sair da categoria e ser aceito como não-chato. Por isso, chateia todo mundo. O chato é, antes de tudo, um carente. Ele vive do sangue dos outros, do ar dos outros, o chato precisa de você para viver. Sozinho, o chato não existe. 

Existem vários tipos de chatos. O mais famoso é o chato de galochas, que eu pesquisei e descobri que a origem do termo. Fala do cara que sai de casa com chuva torrencial, põe as galochas e vai na tua casa para te chatear. 

Há chatos masoquistas e sádicos. O primeiro é aquele que gosta de chatear para ser maltratado: "Porra, não enche, cara!" Adora ouvir essa frase, para remoer um rancor delicioso que valoriza sua solidão: "Não me entendem, logo sou especial!" O chato sádico, não. Ele quer ver teu desespero e escolhe os piores momentos para te azucrinar: "Poxa... sua mãe morreu ontem, mas ouve meu problema com minha mulher..."

Eu não vou fazer aqui um tratado geral dos chatos, mas como lutar contra eles? 
Por exemplo: Use óculos escuros. O chato fica desorientado quando não vê teus olhos. O chato adora ver o próprio rosto refletido em teus olhos desesperados. Com você de óculos escuros, ele desiste e vai embora. 
O chato gosta de ver teu sofrimento, por isso não adiantam as respostas malcriadas, resmungos. Ele gruda mais. Nem adianta fingir simpatia, na esperança de que ele parta. Outra técnica que funciona muito é chatear o chato. Seja o chato do chato. Ele pergunta: Por que você não volta a fazer medicina? E você retruca:  Que você está achando do governo do Lula ? Faça-o falar, como o Freud agia com as histéricas. O chato falador é mais suportável do que o chato perguntador. 

Tem também o chato do elevador. Estou num elevador vazio, indo para o 20. Entra um cara e me olha. Eu, precavido, já estou de cabeça baixa. Há uns momentos tensos de dúvida: "Ele ousará falar?" — eu penso. "Falo com ele?" — ele pensa. Passam uns andares. "Ele não vai agüentar" — eu penso. Não dá outra. "Você não é aquele cara do boxe?" "Sou... ha ha..." — digo, pálido, fingindo-me deliciado. "Só que eu esqueci teu nome... Como é teu nome mesmo?" "É Rubinho", digo eu, querendo enforcá-lo na gravata de bolinhas. E você mora aqui ? E eu penso, sorrindo simpático: "Não, moro com sua mãe lá na zona."

Tem o chato-mala, sempre no ataque. Outro dia, no aeroporto, eu subindo uma escada, com duas malas e o cara berrou: "Eiii,  dá para tirar uma foto com a lutadora ?" Todo mundo olhando e eu com duas malas (3 na verdade a lutadora é uma, sem alça). 
"-Não me leve a mal, mas estou pegando o avião... "
E ele: "Poxa... Você tá ficando é muito mala cara!"

Um dia, houve o clímax, a apoteose do chato da foto. Fazia eu um modesto xixi num banheiro de cinema, aquele xixi triste e pensativo, quando o cara chegou: Dá para tirar uma foto com a lutadora?  Fiquei puto: "Estou mijando... porra... você quer o quê ?" E ele: "Qual é a tua ? Tá pensando que eu sou viado ? "

Tem muitos tipos. Tem o chato crítico. Ele te agarra na rua e começa com elogios rasgados: Você é o máximo, mas... (trata-se do chato do ‘mas’...)...mas, você disse uma besteira horrível, outro dia — sobre a Holly Holm. Ela não é canhota como você falou...

Tem todo tipo. E agora tem os e-chatos na internet:
Você aparece "ocupado" ou "ausente" no msn e o chato escreve: "Oi, tudo bem ?"  
Você escreve qualquer bobagem no Twitter e ele te liga perguntando: "Tá tudo bem?"
Você troca sua foto no orkut e ele manda um scrap: "Adorei a foto nova"
Isso sem contar as mensagens de email que entopem a caixa de entrada com emails de correntes, apresentações de slides ou filmes pornozão...


Que chato isso...

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